C a r l o s B a r ã o | carlosbaraomail@gmail.com |
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2015-2019 | |
2010 - 2014 |
2005 - 2009 |
2000 - 2004 |
E S T U D O S
Lisboa, 1964. Estudou história da arte, design de comunicação e psicologia na Universidade de Lisboa e no Instituto Superior de Psicologia Aplicada. C O L E C Ç Õ E S / M U S E U S / O B R A P Ú B L I C A
Banque Privée. Suíça Burj Khalifa Building. Dubai. E.A.U. (Obra Pública) Câmara Municipal de Leiria Centro Cultural de Almancil. Portugal Centro Cultural de Grindavik. Islândia Clube Financeiro de Vigo. Espanha
Fundação Champalimaud.
Portugal
Governo Civil de Leiria. Portugal Grupo Siemens. Portugal Instituto Superior de Psicologia Aplicada Município de Keflavik. Islândia (Obra Pública) Museu de Arte Contemporânea Keflavik. Islândia
Presidência da República da Islândia Vencedor do Segundo Prémio de Pintura "Dubai Internacional Art Symposium " 2005 (Júri Internacional)
E X P O S I Ç Õ E S I N D I V I D U A I S
2021 Galeria Trema. Lisboa 2020 Galeria Trema. Lisboa 2019 Casa da Cultura. Setúbal. 2018 Museu da Imagem em Movimento M.I.M.O. Leiria. Galeria Arquivo. Leiria. Galeria I.S.P.A. (Pintura sobre papel). Lisboa. 2017 Galeria Trema. Lisboa Galeria I.S.P.A. (Pintura sobre tela). Lisboa 2015 Edifício Banco de Portugal / C.M.Leiria 2014 Galeria Valbom. Lisboa Museu Municipal de Coimbra. Edifício Chiado 2013 Galeria Miva, Malmö, Suécia 2012 Galeria Sete. Coimbra 2011 Galeria Valbom. Lisboa Galeria Sete. Coimbra Galeria Pedro Serrenho, Lisboa Galeria Vale do Lobo. Vale do Lobo
2010 Galeria Espaço
Tranquilidade. Lisboa 2009 Centro Cultural de S.
Lourenço. Almancil Galeria Pedro Serrenho.
Lisboa 2008 Academia Siemens 2007 Banco de Portugal /
Câmara Municipal de Leiria. Leiria Centro Cultural de S.
Lourenço. Almancil Galeria Pedro Serrenho.
Lisboa 2006 Academia Siemens. Lisboa Galeria Pedro Serrenho.
Lisboa 2005 Centro Cultural de
S.Lourenço. Almancil Paços do Castelo de
Leiria. Leiria 2004 Museu de Arte
Contemporânea Reykjanes. Islândia Galeria Vale do Lobo.
Vale do Lobo Galeria Pedro Serrenho.
Lisboa 2003 Banco de Portugal /
Câmara Municipal de Leiria. Leiria Galeria Contemporarte.
Leiria Inauguração/Estádio
Magalhães Pessoa. Leiria (Obra Pública) 2002 Centro Cultural de
Grindavik. Islândia Galeria Pedro Serrenho.
Lisboa
E X P O S I Ç Õ E S C O L E C T I V A S 2022 Museu das Artes de Sintra LAAF Lisbon Art and Antiques Fair. Cordoaria Nacional. Lisboa 2021 DrawingRoom, Art Fair, Madrid, Espanha FIG Bilbao, Art Fair, Bilbao, Espanha 2020 DRAWING ROOM 2020 LISBOA. Galeria Trema, Lisboa. 2019 JUST MADRID 2019. Feira Internacional de Arte de Madrid. Galeria Trema Galeria Trema. Lisboa 2018 JUST LX . Feira Internacional de Arte de Lisboa. Galeria Trema ESTAMPA MADRID 2018. Feira Internacional de Arte de Madrid. Galeria Trema Palácio dos Marqueses da Praia e Monforte. Estremoz. Galeria Trema. Lisboa. Galeria 7. Coimbra 2017 ESTAMPA MADRID. Feira Internacional de Arte de Madrid. Galeria Trema. Madrid 2016 Centro Cultural la Despenada. Villanueva de la Cãnada. Madrid. Espanha Câmara Municipal da Corunha. Sala de Exposições. Corunha. Espanha Galeria Amostra. Maia Arte Fórum. Maia 2015 Galeria Valbom. Lisboa "L´image du Sud". Centro de Negócios de Perpignan. Perpignan. França 2012 Galeria Valbom. Lisboa Galeria Pedro Serrenho. Lisboa
Centro Cultural de
S.Lourenço. Almancil Galeria Valbom. Lisboa 2010
Museu de Arte
Contemporânea de Angra de Heroísmo Galeria Valbom. Lisboa Centro Cultural de S.
Lourenço. Almancil 2009 Arte Lisboa 2009.
Galeria Pedro Serrenho. Lisboa Galeria Pedro Serrenho.
Lisboa Centro Cultural de S.
Lourenço. Almancil 2008 Arte Lisboa 2008.
Galeria Pedro Serrenho. Lisboa Galeria Olympe.
Perpignan. França Galeria Pedro Serrenho.
Lisboa Centro Cultural de S.
Lourenço. Almancil 2007 Arte Lisboa 2007.
Galeria Pedro Serrenho. Lisboa Centro de Negócios de
Perpignan. Perpignan. França Centro Cultural de S.
Lourenço. Almancil Galeria Pedro Serrenho.
Lisboa 2006 Arte Lisboa 2006.
Galeria Pedro Serrenho. Lisboa Museu da Cidade de
Coimbra. Coimbra Galeria Pedro Serrenho.
Lisboa Centro Cultural S.
Lourenço. Almancil 2005
Arte Lisboa 2005. Galeria Pedro Serrenho.
Lisboa
International Art Symposium.
Dubai. Emirados Árabes Unidos Galeria Pedro Serrenho.
Lisboa 2004 Arte Lisboa 2004.
Galeria Pedro Serrenho. Lisboa Galeria La Factoria
Perro Verde. Madrid. Espanha Centro de Artes e
Espectáculos da Figueira da Foz Galeria Pedro Serrenho.
Lisboa 2003 Clube Financeiro de
Vigo. Espanha Spacio Laboratorio del
Liceo Artístico. Milão. Itália Galeria Contemporarte.
Leiria Galeria Pedro Serrenho.
Lisboa 2002 Centro Cultural de
Rozzano. Milão. Itália Celeiro da Cultura.
Câmara Municipal de Borba 2001 Galeria Pedro Serrenho.
Lisboa 2000 Galeria Jean Pierre
Masset. Paris. França Fundação Glóvis
Salgado. Belo Horizonte. Brasil Palácio das Artes de
Belo Horizonte. Brasil Galeria Manuel Macedo.
Belo Horizonte. Brasil
Galeria de San Ildefonso – La Granja. Segóvia. Espanha
P U B L I C A Ç Õ E S "A Arte de Fintar a Sombra. Escitos sobre a face e o avesso do processo criativo" Edit. Estuário 2020 Catáogo da Exposição "ME" Galeria do ISPA 2017 Catálogo da Exposição "Paisagem. O Elogio da Solidão" Galeria Valbom. 2014 "Um pintor é um homem de laboratório" Entrevista "Jornal de Leiria" Elisabete Cruz (texto), Ricardo Graça (fotos) 10 Abril 2014 - pag.8 e 9
"Carlos Barão. Pintura" Preguiça Magazine. Texto de Carla Alexandra Gonçalves. Abril de 2014
Catálogo da Exposição "O Parentesco das Coisas" Galeria Valbom. 2011
Catálogo da Exposição "Atenção Flutuante" Galeria Espaço Tranquilidade. Lisboa “Carlos Barão - Escritas Remotas”. Rocha de Sousa in "Jornal de Letras"
Livro “Carlos Barão - Pintura” Textos de Hugo Dinis. 2009
Catálogo da Exposição “Modo Narrativo” Galeria Pedro Serrenho. 2009
Catálogo da Exposição. Galeria Olympe. França. 2008
Catálogo da Exposição “Projectos” Galeria Pedro Serrenho. 2007
Livro “Carlos Barão - Pintura” Banco de Portugal/Departamento da Cultura da C.M. Leiria. 2007 Programa "Molduras". Agosto 2007
Livro "25º Aniversário C.C.S.L. "Na Cozinha dos Artistas" Centro Cultural de S. Lourenço, 2007.
Catálogo da Exposição “Biografia de Cão” Galeria Pedro Serrenho. Texto de José Manuel Ciria. 2006
Livro “Estádio” Pintura e Fotografia. 2005 Catálogo da Exposição “Patchwork” Centro Cultural de S. Lourenço. 2005
Catálogo da Exposição Reykjanes Art Museum. Texto de Margarida Salet. Islândia. 2004
Catálogo da Exposição “Dinâmicas a Partir do Inevitável” Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz. Texto de Augusto Carvacho. 2004
Catálogo da Exposição “P.K. 630,7: Madrid-Lisboa” Galeria Factoria Perro Verde/Galeria Pedro Serrenho.
Catálogo da Exposição “Inventário de Dias Felizes” .Galeria Pedro Serrenho. Texto de Gil Maia. 2004 Catálogo da Exposição "Andamento". Inauguração da Galeria Contemporarte. Leiria. 2010 Catálogo da Exposição “Encontros em Vigo”
Livro “Relicário” Câmara Municipal de Leiria. 2003
Catálogo da Exposição “Quase Tudo Sobre Rodas” Galeria Pedro Serrenho. Texto de Constança Metello de Seixas. 2002
Livro "Europa: identitá e linguaggio a confronto" Edição Comissão Europeia, Programa Cultura 2000. 2002 Catálogo da Exposição Inauguração da Galeria Pedro SerrenhoLisboa. 2001 Livro “Leiria / Belo-Horizonte. Um Encontro de Culturas” Ângelo Oswaldo Santos, Isabel Damasceno. Galeria 57. 2000
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Textos |
O que
vê e sente o artista da sua própria obra? Nesta série de trabalhos,
Carlos Barão posiciona-se como observador que
sai de dentro da tela e se perspectiva do lado
de fora, tornando este gesto como uma projecção
no contemplador recriador. É este caminho que
desvela, deixando de ser o quadro o próprio
quadro, tornando-se este um pronome, "Me". Desta
forma experimenta outras peles, outras
perspectivas, descentrando-se do que o
condiciona, abrindo espaços, de um outro olhar e
outra criação. Denota-se o constante esforço de
se ultrapassar, de criar recriando-se, de
questionar, perspectivando um novo ângulo no
olhar sobre si. Despe-se do acrílico, da tela,
da forma, da cor que nos agarra e nos molda. É
desta forma o criador às suas próprias mãos. O
que sinto eu quando me vejo? Quem sou eu? O que
está pressuposto é a ideia de que no momento em
que nos distanciamos, abarcando o nós e os
outros, abarcamos uma realidade maior. Apesar de toda a liberdade
expressa na produção da obra, podemos referir
que houve um ponto de partida para a maior parte
desta série de trabalhos. De forma muito pessoal
e não isenta da contemporaneidade que vivemos,
Carlos Barão fez uma leitura da série de
gravuras produzidas por Goya no século XVIII com
o nome de Los Caprichos, onde é ilustrada uma
forte sátira da sociedade espanhola de então. A
partir deste “gatilho”, todo um universo se foi
revelando na tela, como uma viagem a um passado
feito presente. A visão de quem escreve este
texto é, por seu turno, o resultado de uma
viajem ao universo de Carlos Barão, numa
tentativa de agarrar a obra e o autor por
dentro, inteirando-se da sua verdade espontânea.
É uma visão parcelar, contudo, singular, já que
parte da premissa dada pelo artista de que a
"Arte é a comunicação entre o inconsciente de
quem a produz e o inconsciente de quem dela
usufrui".
Longe de facilitismos e de se deixar
condicionar por aspectos do expectável, Carlos
Barão ousa expor, à vista de todos, o seu ser,
consigo e na relação com os outros, rompendo com
um contexto histórico-cultural previsível,
transformado em Arte. Como nos diz o autor,
"só existe beleza
na relação com o afecto" -
e
esta beleza existe na verdade mais pura que o
encerra e que é ofertada em cada uma das suas
obras. Não se deixando encerrar no que outros
artistas criam, traz-nos uma linguagem nova,
ainda que plural pois os seus quadros são
constatações de evidências do mundo que o
rodeiam e rupturas constantes que consolidam uma
identidade muito própria. Navegamos entre a
racionalidade e a pura manifestação do
inconsciente liberto.
O processo criativo do autor não passa
nem por esboços, nem planos pré-definidos, não
se deixando condicionar pelo seu próprio
percurso, evitando assim a previsibilidade e
fornecendo terreno fértil ao aparecimento do
imprevisto. Esta liberdade, que impera, fica
perto da espontaneidade, trazendo com ela a
própria surpresa e deslumbramento, posicionando
o artista numa perspectiva oscilante e constante
entre a realização e o usufruto da sua própria
obra. Um quadro não desfaz o outro, sendo antes
um puzzle de uma obra única que se impõe. São
faces de um percurso evidente de transformação
pessoal que se manifesta em cores constantes: o
vermelho e o preto, gestos claros de libertação,
de rompimento com o pré-estabelecido, mais ou
menos controlado consoante a obra exposta. Ao
nosso olhar, condicionado por aspectos
perceptivos, é-nos feito o desafio para
oscilarmos entre diferentes dimensões e planos,
entrando na obra e nas problemáticas expostas.
Estas obras podem igualmente ser vistas de
dentro para fora, centrando-nos no mais distante
e tentando compreender que ruptura realiza o
artista. Que perguntas nos traz? Que respostas
nos induz?
Finalmente, nas obras sem
título, em que não nos é dado nenhum auxiliar
interpretativo das mesmas, podemos também
calmamente repousar o olhar; é um apelo à nossa
imaginação, à nossa criatividade e ao mesmo
tempo um pedido que nos tornemos observadores
recriadores, num entrelaçamento entre desejo e
sonho. Desta forma devolve-nos o artista a nossa
própria liberdade, dando-nos espaço de
questionamento. A beleza sempre se encontra na
interligação entre a obra e o olhar do
observador, não depende unicamente da obra. O desafio está perante nós
...
Teresa Almeida Rocha 2017 |
(...) Não
é a primeira vez que nos encontramos com a obra
de Carlos Barão em Coimbra, pois que já o vimos
em duas exposições individuais na
Galeria7
em 2011 (Em
Trânsito) e em 2012
(Estruturas).
A exposição que aqui nos
traz conta com 10 recentíssimas obras do pintor
que, na sua expressa maioria (todas menos uma,
Sem Título,
de 2011), deriva de uma matriz temática
especial: a paisagem. Mas a paisagem de Carlos
Barão é um panorama fictício, planeado como um
acontecimento impetuoso e inquietante que nos
permite realizar várias leituras, embora todas
muito presas à densa linguagem pictórica que nos
indica os caminhos interrompidos apenas pela
delimitação das imagens que terminam onde as
telas se acabam.
Do conjunto das peças
expostas em Coimbra sobressaem várias ideias,
relacionadas todas com o visível e com a
fantasia que, por sua vez, nos reporta para um
mundo-outro
onde apesar de tudo nos adivinhamos, se nos
deixarmos levar através dos caminhos percorridos
pela tinta que se passeia, que cai, que se atira
activamente contra a tela, que se deixa misturar
em enamoramentos feitos de tonalidades que
aquecem nos focos de fogo e de terra.
Para além das alusões ao
visível e ao fantástico, este grupo também nos
relaciona com a expressão e com o gesto que se
adivinha por detrás dos pontos de cor plana ou
miscigenada, nos fios de tinta que indicam o
percurso da mão do pintor, e na sua própria
acção que conseguimos descobrir porque se mostra
nas marcas profundas que o denso acrílico foi
deixando nos suportes. Trata-se de um conjunto
de
acção-pintura, ou
de pintura feita de gesto matizado nos fundos e
nas superfícies e pelo
splash
que conseguimos ouvir quando vemos, e que vemos
porque se descreve.
Pressagia-se, neste grupo
pictórico, a cultura visual de Carlos Barão,
profundamente contemporânea. E do conjunto de
influências que o pintor recebeu, e que se
perfilha de forma lúcida mas muito diluída na
sua obra, resultou uma síntese técnica, estética
e artística coerente e pessoalíssima, e que se
expande através do já amplo e muito reconhecido
corpus
de obra
do autor, modelarmente autenticável porque
inteiramente original.
É, por todos estes
motivos, imprescindível participar desta
experiência visual que Carlos Barão nos oferece,
porque somos transportados pela miragem do
reflexo da paisagem vermelho fogo na costa
(Paisagem # 7 Costa), pela miragem das areias
rosas do deserto (Paisagem # 15), pela miragem
das nove zonas de uma paisagem flora (Paisagem #
14 Flora), entre as demais
miragens
que se nos oferecem como propostas de revisão de
uma natureza que se diz através desta linguagem
pictural específica, sem permissão para uma
transcrição verbal que não a faça perder em
vocabulário. São exemplos de pintura que não se
diz por palavras, de pintura que se expressa
através da acção e do som das cores e da mão que
perpassa a tela, de pintura que resulta das
camadas que o pintor exterioriza porque é feito
delas, de pintura que não se conforma com o real
mas que se funda nele. Texto de Carla Alexandra Gonçalves. Fotografia de Bruno Pires
De forma consistente, Carlos Barão tem feito do seu trabalho uma contínua reflexão sobre o papel do inconsciente como fonte de expressão artística. É claro que a este facto não será estranha a sua formação em História da Arte e Psicologia mas, como ele próprio refere, o seu percurso académico ajudou-o apenas a colocar os problemas em perspetiva, tendo sido muito mais interessante e enriquecedor deparar-se com questões inesperadas – “as questões que nascem quando trabalhamos numa tela, dia após dia, em busca de respostas”. (...) E assim, num jogo de continuidades, as obras surgem, apoiadas umas nas outras, revelando o pensamento de quem as produz. Mas não só, já que cada quadro é, também e assumidamente, um convite para que o observador se envolva na identificação das formas e dos conteúdos que são o reflexo da sua própria vida interior. (...)
Carlos Barão possui uma já vasta obra, mas
insiste que cada quadro é como um parágrafo num
longo e interminável texto reflexivo. A este
respeito o autor chega a afirmar que, se um
quadro se assumir como demasiado importante,
maior será a nuvem que o encobre e mais difícil
será encontrar o caminho a que nos quer
conduzir.
Júio M. Vaz, “Carlos
Barão”, Press
Release Galeria Miva, Suécia. 2012
Revisito Carlos Barão (...), sinto bem, de novo, a pujança da sua pintura, mas a escala dos seus trabalhos parece ter ganho maior grandeza. E a própria manualidade, como instrumento de pintura, alcança um ritmo mais forte, um feliz encaixe de parentescos, de semelhanças. Até podemos dizer que as sínteses das estruturas cromáticas não se furtam a um leque de constantes proximidades ou graduais concordâncias. A velocidade do fazer retoma anteriores reconhecimentos, uma aceleração cuidada e dominada, embora todos saibamos que tais efeitos são frequentemente relativos em autores deste tipo de expressão. Bons conhecedores do seu ofício misturam habilmente aparências nos tons, na relação entre tintas fundadoras, na força e contraste das presenças onde a representação despojada passa por memórias remotas e talvez por referências indiretas ao valor das atividades lúdicas da infância. (...) Toda esta força plástica, agora, em plena maturidade, relembra primeiras formas fechadas, fragmentos de escrita remota, autorreconhecimento comparável entre diferentes hipóteses formais, coisas que podem sinalizar, de facto, os primeiros achados do ser e do ver. (...) Carlos Barão divide menos a superfície. Podemos falar em quadros dípticos em grande parte desta magnífica produção. (...) Por todo o lado há paradoxos fascinantes, mudanças de ritmo (plástico ou narrativo). No seu pleno espaço de expressão, Barão elabora formas através de linhas, tintas como que rasuradas, colagens, manchas de recortes particulares, antropomórficos ou caligrafias narrativas em torno do quotidiano, da família e dos adereços construtivos. (...) Olhar os quadros de Carlos Barão é reaprender a ver e a exprimir o visível. Cada quadro, onde tudo assim se confunde e identifica ganha em geral a força de um belo espetáculo, camadas de tempo, apelo à criança que existe entro de nós.
Se insistirmos o suficiente, Carlos Barão fala sobre o seu trabalho, mas a relutância só tem a ver com uma coisa. Segundo ele, por mais que se esforce fica sempre com a sensação amarga de que o mais importante ficou por dizer, apenas restando a clara sensação de que a Arte é uma demonstração do engano que está numa coisa e da verdade que está em todas. (...) Sem estudos prévios,
cada trabalho é absolutamente único; reporta-se
a um instante, o instante da construção da
imagem. Recorrendo àquilo que chama de “novas
manchas projectivas”,
o autor começa por
distribuir diversas manchas pela superfície de
trabalho. Num primeiro momento não vislumbramos
relações cromáticas, formais ou estéticas entre
os elementos que estão na tela; contudo, lenta e
progressivamente, começamos a observar que se
vão estabelecendo diálogos entre as partes
envolvidas, como se as ideias soltas estivessem
a organizar-se para formar um pensamento
completo. Surgem formas familiares que se
afirmam individualmente ou, em alternativa,
estabelecem com outras formas um cada vez mais
forte e evidente diálogo. Evocando figuras
simples, arquétipos até, muitas vezes inspiradas
na crua e objectiva percepção da infância, as
composições emergem e tornam-se invariavelmente
chamativas. Em cada surpresa há uma revelação,
há uma tomada de consciência.
Carlos Barão,
convidando-nos a
um breve abandono do
pensamento lógico,
formal, paradigmático, sugere que passemos ao
pensamento narrativo, mais próximo do que
apelidamos de contemplação. É então, não sem o
estranharmos, que cada imagem vai sugerindo que
a envolvamos com a nossa própria experiência.
Nesse instante, por um instante, há um
“amor
acrílico -
a obra faz parte de nós e nós fazemos parte da obra. " Manuel Vieira, "Amor Acrílico", Press Release Galeria7, Coimbra. 2011
(...) Carlos Barão tem sabido mergulhar nos processos de autorreconhecimento, trazendo para suportes convencionais as linhas, arabescos, formas indecifráveis, objetos comuns que parecem apresentar e dar-nos a ver materiais da memória, (…) escritas remotas, coisas que sinalizam a infância, um mundo que já foi e que vem até nós de muito longe, do côncavo do lago espesso onde se encontrava. Há uma imagem complementar que nos ajuda a perceber o processo: é a imagem de alguém que mergulha o braço naquela água, até ao ombro, e de lá vai repescando detritos da vida e das coisas, formas desprendidas e rotas, fios, papéis. (…) No seu pleno espaço de expressão, ele elabora formas através de linhas, tintas como que rasuradas, colagens, manchas de recortes particulares, antropomórficos, ou caligrafias narrativas em torno dos personagens do quotidiano, da família e dos adereços construtivos. (…) Cada quadro, onde estes elementos se identificam e logo se desvanecem ou são encobertos por outras camadas de tempo, constitui em geral um espetáculo de grande efeito expressivo, o apelo à criança que existe dentro de nós em vez do luxo verista de certas representações. (...)
As narrativas incompletas que o pintor Carlos Barão executa através de pequenas partes de um texto mais extenso, congelam um determinado momento que suspende o espectador mais distraído. Resgatando referências ou escrevendo frases perdidas o autor parece querer contar uma história que transcende a sua própria vida. Consequentemente, o espectador destas imagens tenta acabar a história suspensa com as suas próprias referências e memórias. As frases e os objectos são complementados por vidas estranhas à do seu autor. Este desfasamento entre a imagem e a sua significação parece residir no foro individual e intransmissível de cada um. (...) As pinturas de Carlos Barão tratam de uma linguagem aparentemente inacessível, como um sentimento de algo íntimo e estranho (...). Ao simplesmente apresentarem - e não representarem - objectos do dia-a-dia, parece que cada uma das obras pictóricas enuncia uma recordação de infância perdida, de difícil acesso. Enquanto a representação sugere uma memória colectiva, a apresentação atinge e fere a memória individual. Deste modo, ao reflectirem sobre o reconhecimento pessoal dos objectos que nos acompanharam na infância, as pinturas de Carlos Barão encenam o que de mais primordial ocorre na nossa relação com cada objecto enunciado: a dor e o prazer da perda e do reencontro. (...) O diálogo entre pinturas e espectador não é nem óbvio nem directo. As narrativas pictóricas não são lineares, nem tão pouco o acesso às memórias individuais. Em suma, as pinturas de Carlos Barão são, por um lado, narrativas familiares na medida em que reconhecemos os objectos e as histórias representadas mas, por outro lado, são estranhas na medida que cada espectador e a natureza própria das pinturas dificultam o acesso à memória que tentam anunciar: sentir algo estranhamente familiar. Hugo Dinis, "Algo Estranhamente Familiar", in Catálogo Gal. P. Serrenho, 2009.
Para
não me alongar nem desviar da essência,
pretendo unicamente referir que considero a obra
soberba, bem resolvida, ajustada na composição e
com uma temperatura de cor absolutamente
sedutora.
(…) Vejo quadrículas cheias de elementos,
estradas, construções, um muro, um quadrado e um
cubo, letras e textos, símbolos e números. Vejo
um caminho e flores. Vejo uma criança com a
cabeça grande e o cabelo desgrenhado, uma figura
com as mãos abertas, uma senhora de grandes
peitos. Vejo uma casa e um lago, outra criança
irmã da primeira passa a correr. Vejo linhas e
atmosferas, sangue e vida..
Sim, vejo tudo isto, sabendo Carlos que a tua
obra é absolutamente abstracta, que não precisas
de referentes, que preferes a busca pela
surpresa, pelo acontecimento plástico, pela
aventura da solução, pela consolidação de uma
linguagem única e pessoal.
Querido companheiro e amigo o que dizer perante
a tua obra? Para mim é um deleite e uma lufada
de ar fresco (…). Ao trabalho, continua pintando
com aquilo que se deve pintar – com as
entranhas!
José
Manuel Ciria.
“Carlos
Barão ou a Pintura Arrancada do Estômago (Breve
aproximação com afecto aos seus últimos
trabalhos)”. In
Estádio,
2005
PAISAGEM –
O ELOGIO DA SOLIDÃO
Existe toda uma gramática da Pintura de Paisagem, um
conjunto de elementos que a sugerem e nos
permitem reconhecê-la enquanto tal. Esses
elementos podem ser apresentados de forma
explícita se o entendermos, mas essa não foi a
opção para o conjunto de trabalhos apresentados.
A questão sempre presente nesta pesquisa,
pessoal e sistemática, foi antes a de averiguar
em que medida se pode comprometer ou manter uma
dada pintura dentro do género de pintura de
paisagem, com tudo aquilo que verdadeiramente
uma paisagem nos evoca e faz sentir. O que é uma Pintura de Paisagem?
Quando é que uma Pintura de Paisagem deixa de o ser?
O que acontece se alterarmos as regras, se introduzirmos a
ambiguidade, se esticarmos ao limite a noção de
Paisagem?
Mas, se para a pintura chinesa a Paisagem valia por ela
mesma, para os gregos e romanos a Paisagem
servia apenas para enquadrar uma cena principal.
Mesmo na Idade Média e no Renascimento foi
somente utilizada como suporte para representar
o divino. É só no século XIX que o tema deixou
de estar subalternizado na cultura ocidental e
alcança o estatuto de género. A Natureza é
dessacralizada e passa a ser objecto de um olhar
mais atento e esclarecido. Numa abordagem mais
naturalista, estudam-se as estações do ano, a
geologia, a fauna e a flora. Progressivamente, a
Pintura de Paisagem vai revelando tiques de novo
academismo e, como todos os academismos, foi-se
formatando - imperava o escalonamento de planos
(sugerindo diferentes graus de profundidade) e a
inclusão de objectos familiares; e tudo o que
contrariasse estes pressupostos estruturais era
desconsiderado, pois iria afastar-se do
expectável e confundir o observador. O pintor
confundia-se com o “ilusionista” e o observador
era visto como um agente passivo, buscando a
beleza institucionalizada, previsível,
confortável. O desconforto espacial e mental
provocado por qualquer dissonância era
penalizado pelo público e pela crítica e apenas
o virtuosismo permitia alguns atrevimentos, mas
sempre envoltos no rótulo alargado da
extravagância.
Contrariamente ao
que se poderia inicialmente pensar, com a arte
contemporânea a Arte não se afastou da Natureza,
apenas a começou a utilizar em vez de a
representar. A paisagem é transportada para
arte; é seu referencial para a composição e
reflexão estética, assim como elemento
preponderante de auto-reflexão. A Pintura de
Paisagem é cada vez mais um acto de criação em
que o autor se implica. As pistas deixadas pelo
pintor são cada vez menos óbvias, o terreno para
a imaginação e para a memória volta a ser
fértil. O Homem questiona a sua relação com a
Natureza e o Território.
Carlos Barão (texto para catálogo da exposição, Galeria Valbom, Lisboa, 2014)
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